terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Todas as horas perdidas a perguntar se ainda existo em ti.
Se ainda há linhas do mundo que queríamos ver de mochila, se ainda corres comigo as avenidas de Paris ou as ruas do Porto ou os abraços de Lisboa.
Se ainda me ouves nos filmes ou lês nas músicas. Se ainda me tocas quando fechas os olhos. Se ainda não perdeste tudo, se foi em vão. Se te lembras, sequer.
Sei que não, sinto que não, dizes que não, mas continuo a insistir até gostar da resposta.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Estavas febril, com todas as certezas da impossibilidade que arrastavas sozinha.
Foi depois da maior noite do ano, quando os dias começaram a encerrar mais tarde para nos dizer que tínhamos todo o tempo do mundo.
Não os ouvimos e tínhamos razão. Não dormimos naquelas horas à porta fechada onde desenterrámos o machado e começámos a luta de uma vida.
Era frio mas estava quente. Havia luz mas não víamos nada - só aquele precipício para onde não hesitámos correr de mãos dadas sem paraquedas nem precaução.
Pintaste-me a ausência e falaste-me na saudade sem saberes que era só com ela que eu ia ficar.
Assinámos contrato sem termo com o amor feroz que nunca foi gritado em vão. Deixaram de existir ânimos leves, tal como deixaram de existir palavras.
Nunca me tinham faltado as palavras antes de ti. Carregaste-as, como me carregaste a alma. Ao menos as palavras eu consegui recuperar.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Era janeiro. Disse-lhe que não, com as amarras da cobardia ao pescoço.
Disse-lhe que não tinha força, que era demais. Procurou na gaveta os argumentos que sabia não ter e despediu-se de cabeça baixa, pesada pela vergonha que carrega a falta de coragem.
Ela levantou-se e foi-se embora. Não gritou nem morreu - foi-se só embora com a dor do silêncio.
Os relógios reformaram-se para desfibrilhar o amor. Saiu dali quando a noite caía e quando ela já ia longe e correu com o rio dado à mão direita.
Correu até os pulmões colapsarem, até lhe conseguir agarrar o braço, até lhe sentir a boca, até lhe prometer a eternidade.

Para quê?
Estava frio e as páginas rasgavam as mãos.
Era linda a Lisboa que lavava em lágrimas as memórias de cartão.
Falavam das janelas para as ruas vazias, para as pedras molhadas, sobre os tribunais do amor e os carrascos da esperança.
Cruzavam os braços junto ao peito. Aconchegavam o casaco. Riam-se porque o gelo lhes dá força - elas, as memórias de cartão que não sabem o que é justiça e sufocam o que é viver.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Acordei à beira do abismo, sem noção do impossível. Tinha o sangue nos ouvidos, a agonia nos pulsos, a sede nos olhos. Quis saltar, sem sequer saber se estarias lá em baixo, se darias um passo atrás quando me visses cair.
Foi assim que percebi que tinha de desistir, de abrir mão, de fechar perpetuamente o peito em ferida.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014