terça-feira, 25 de novembro de 2014

Luzes apagadas. Coração na boca. Mãos no peito. Relógios fechados. Horas vazias. As noites escorriam mais depressa que nós, que olhávamos para o teto com a alma nas histórias maiores que o tempo. Com todos os contos que nos amaram naquela cama de criança. Saudades demais. Vidas inteiras. Segundos pequenos. Luzes apagadas.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014


Estavas ali, naquele pedaço de tempo perdido nos espaços - não, contigo nunca o contrário. És os tempos e as máquinas das noites da memória fria.

És sempre os minutos de ontem, de há anos. És sempre no pretérito. És sempre no imperfeito das coisas e das falas. És sempre nas palavras repetidas - sei sempre o que te dizer, a todas as horas e a todos os dias que não são meus.

Deixa-me escrever quando não ouves e falar quando fechas os olhos.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Passam todos por nós, os anos. Passam rudes, passam feios, passam com armas e com bagagens. Passam com muros, passam dormentes, passam grandes e fortes e cheios.
Passam de olhos fechados. Passam sem ver, do alto da sua arrogância, que nós não passamos por eles.
Estávamos num autocarro de mão dada. Estávamos num carro à minha porta. Estávamos num concerto aos encontrões. Estávamos longe e estávamos perto. Estávamos nas letras e no peito. Estávamos sempre. Estávamos na vida toda, meu amor. Estávamos na vida toda.



Parabéns, B.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Estou assim desde que o Atlântico nasceu, desde que me lembro. De olhos fechados e cheios de pesadelos onde ainda tenho os ritmos da tua voz e o cheiro da tua pele, onde ainda me deito nos teus cabelos e fecho a mão com o coração lá dentro. Os pesadelos de hoje que são a realidade de ontem. 

Espero que a vida me deixe. Que as mãos não me sintam. Que o corpo não me doa. Até lá, peço-te só que me deixes quebrar as promessas porque as palavras que para ti não são nada são tudo o que me faz acordar.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Desliga-me o cronómetro deste tempo que não passa. É absurdo que os beijos morram na praia e as vozes se afoguem neste rio de dias que apagámos do calendário.

E esta justiça, também. Que não pede tradução. Só pede licença e escusa-se de entrar. Chega quando quer, desaparece sem quando nem onde. São negócios da China, estes onde nos enterramos até ao pescoço.

Que se foda, está tudo bem.

Nós aqui. No meio do nada. E eu aqui, sem cadernos para escrever.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

d'outono

É das coisas bonitas de outono. Bonitas e leves e frias. De lá longe, do que não é amor e entra sem pedir. De uma terra cheia de almas vazias. Mas é do outono - só pode ser do outono - de que se riem os sonhos e se semeia a insanidade.
Foge-se ao vulgo. E sentem-se as trovoadas no estômago, as tempestades no rosto e as nuvens no peito. Cheira a novo - respira-se de novo - e enterram-se os machados. Obrigada por me reacenderes o fôlego, por me distraíres da luz apagada, por me ocupares a noite. És uma coisa bonita de outono.

sábado, 1 de novembro de 2014

Quando o tumulto pára, és sem chegar. Falas sem ruído. Existes sem nome. Quem me dera ser como eles, os leves de espírito e pobres de dor, os de coração parado e os que dão a mão ao nada. Quem me dera que o que me enche a alma morresse, também. Quem me dera que os becos tivessem saída e que os unicórnios fossem reais e que as palavras fossem ditas. Mas há coisas que não (me) acontecem. Tu não (me) aconteces.